Campanha eleitoral começa este domingo
A obrigação de votar “é tão séria” como “a de ir à missa”, ainda mais se se tiver em conta a “situação atual” do país que exige dos portugueses “escolhas concretas” refere o Bispo de Angra na Nota Pastoral para as próximas eleições legislativas marcadas para o dia 4 de outubro.
“Para o cristão, a obrigação de votar é tão séria como o de ir à Missa ao Domingo. Aliás, se para alguém fosse incompatível ir votar e ir à Missa, prevaleceria a obrigação de votar, que não é tão frequente como a Missa Dominical”, diz D. António de Sousa Braga.
No dia em que arranca oficialmente a campanha eleitoral, o Sítio Igreja açores recorda as palavras do prelado diocesano, dirigidas às “comunidades cristãs” numa nota intitulada “Votar: dever do cidadão”, publicada no passado dia 2 de setembro.
O Bispo de Angra sublinha que “um cristão, que quer ser cidadão responsável e comprometido, não pode deixar de ir votar, no dia das eleições. Tanto mais na situação atual, que exige que os portugueses façam escolhas concretas, que definam o seu futuro”.
Por isso, acrescenta, no dia das eleições, no próximo 4 de Outubro, “não podemos ficar em casa, deixando que uma minoria escolha por nós. Cada um/a tem de assumir as próprias responsabilidades e escolher, votando”.
O Bispo de Angra lembra o sublinhado que os Bispos portugueses fizeram em abril passado, no final da Assembleia da Conferência Episcopal Portuguesa sobre a “necessidade de a sociedade portuguesa assentar numa base comum de valores sociais e humanistas” e o que ela “ganharia se tivesse em conta princípios do pensamento social cristão, tão acentuado na programática Exortação Apostólica .
D.António de Sousa Braga recorda, por outro lado, as palavras do Papa Francisco quando, no final da audiência geral de 19 de agosto, alertou que “a gestão do emprego é uma grande responsabilidade humana e social, que não pode ser deixada nas mãos de poucos ou descarregada num mercado divinizado… As políticas laborais têm de ser desenhadas em função do bem comum, em vez do lucro de poucos ou do mercado”.
Neste sentido, o prelado conclui que “o bem comum é, por definição, o bem de todos. Não pode ser deixado nas mãos invisíveis da economia de mercado”.
“ A sociedade europeia precisa do contributo da visão humanista da Doutrina Social da Igreja, que tem a sua aplicação na realização dos princípios da solidariedade e da subsidiariedade” frisa o responsável pela Igreja açoriana reforçando a importância de serem observados os princípios da “subsidiariedade; solidariedade e uma preferência pelos últimos”.
Também o Cardeal Patriarca de Lisboa aconselhou os católicos a analisar os programas eleitorais dos partidos portugueses à luz da Doutrina Social da Igreja, com particular atenção às políticas em favor da vida e do trabalho.
“É um ponto muito a reter, tanto mais que, entre nós, a verdadeira questão, que é a do apoio que, enquanto sociedade, devemos certamente dar à vida em gestação, tem sido repetidamente sonegada”, escreve D. Manuel Clemente, numa carta que enviou aos diocesanos no início do novo ano pastoral.
O também presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) recorda que se vão viver nos próximos meses “momentos eleitorais importantes (legislativo e presidencial)” e, nesse sentido, apela a cumprir o “dever cívico” de votar, “com a inspiração evangélica e a doutrina social que dela decorre, na legítima pluralidade das opções”.
A missiva lamenta que o objetivo da “proteção da vida desde o seu começo” seja “mais contrariado do que promovido”.
“O ser humano, se lho permitirmos e apoiarmos, nasce, cresce e realiza-se pelo trabalho, interagindo assim com a natureza e a cultura. Daí que a promoção do trabalho coincida com a promoção do ser humano, ainda mais do que a simples garantia da respetiva sobrevivência”, acrescenta D. Manuel Clemente.
O cardeal-patriarca de Lisboa recorda que o magistério social do Papa Francisco tem sido “apreciado por vários protagonistas e forças políticas”, convidando todos a ter presentes algumas das suas indicações, a partir da recente encíclica ‘Laudato si’.
“Nela, o Papa propõe uma ‘ecologia integral’, em que se inclua a totalidade da criação, do ambiente natural ao ser humano e às suas relações em geral. É esta mesma integralidade que devemos ter presente em cada escolha concreta”, propõe.
Segundo o presidente da CEP, o descuido de tal integralidade, “por qualquer desvio tecnocrático, economicista ou meramente egoísta e gastador”, é a “causa maior de muitos dos problemas” atuais.
Para este responsável, é fundamental que se rejeite “qualquer egoísmo de base ou de projeto”.
“Uma opção ‘cristã” é necessariamente solidária, com consequências para o que temos ou possamos vir a ter”, explica.
O patriarca de Lisboa espera que os católicos façam opções à luz dos princípios “permanentes” da Doutrina Social da Igreja, ou seja, “dignidade da pessoa humana, bem comum, subsidiariedade e solidariedade”, com consequências “para a família, a educação, o trabalho, a economia, a política ou a cultura”.