Imagem chega por mar e durante muito tempo o culto limitou-se a missa cantada e sermão na igreja
A Santa Casa da Misericórdia de Vila Franca do Campo promove no próximo fim de semana as festas em honra do Senhor Bom Jesus da Pedra, uma festa que ganhou uma dimensão maior já no século XX, embora a imagem tenha chegado aos Açores por mar logo nos primeiros tempos do povoamento.
Trata-se de uma imagem “ de fina e expressiva escultura, sentado numa pedra” que deu à costa dentro de uma caixa onde se podia ler “Para a Misericórdia de Vila Franca do Campo”, uma das primeiras dos Açores, sem que até hoje se tivesse conseguido apurar quem foi o remetente desta peça.
Hoje é venerada por milhares de pessoas que habitualmente convergem para Vila Franca do Campo no último fim de semana de Agosto, em que é celebrada a festa, na Igreja da Misericórdia.
Trata-se de um templo erguido nos finais do século XV, integrando um dos primeiros edifícios hospitalares da ilha de São Miguel – o da Santa Casa de Misericórdia de Vila Franca. Nos séculos XVII e XVIII sofreu obras de conservação. Aqui “reside” a imagem do Senhor Bom Jesus da Pedra e todo o seu tesouro, que incorpora para além dos dons- coroa, palma, corda e resplendor- 10 capas oferecidas por devotos, em jeito de agradecimento de uma graça. Acresce a este tesouro todos os bens em ouro oferecidos também pelos fieis e que todos os anos ornamentam a corda que é colocada na imagem.
“Trata-se de uma imagem que nos remete para a paixão de Cristo, momento central da vida de todos os cristãos e por isso ao venerarmos esta imagem também estamos a reviver esta paixão, este sofrimento, o que nos convida a uma enorme espiritualidade”, disse ao Sítio Igreja Açores o Provedor da Santa Casa da Misericórdia de Vila Franca do Campo, Ricardo Rodrigues.
A Misericórdia da Vila, como é conhecida, é uma das mais antigas da diocese de Angra, datando de 1551 ou 1552, altura em que se deu a fundação da Confraria da Misericórdia que haveria de incorporar todos os bens e obrigações da primitiva confraria do Espírito Santo.
Foi também nessa ápoca que a Misericórdia, depois de ter a funcionar o hospital, construiu a sua Capela, naquele que é o principal complexo arquitetónico de Vila Franca do Campo – igreja, hospital, consistório e farmácia – o coração da Santa Casa, onde se tratavam os doentes e se administrava a Irmandade.
A Misericórdia de Vila Franca do Campo tem hoje o estatuto de Instituição Particular de Solidariedade Social e a sua atividade é financiada, fiscalizada e regulada pelo Estado.
Possui atualmente 12 valências, entre elas o Lar de Idosos; Serviço de Apoio ao Domicílio; uma Escola Profissional, ATL´s, Creche; Jardim de Infância; Centro de Atividades Ocupacionais para pessoas portadoras de deficiência, uma Cozinha e Lavandaria, entre outro, num total de mais de uma centena de colaboradores.
“Apesar da diversidade da nossa oferta ainda estamos aquém da procura, mas a nossa preocupação tem sido sempre responder às necessidades de forma sustentável o que nos obriga a uma ginástica e a um rigor orçamental muito significativo”, disse ao Sítio Igreja Açores o Provedor.
Entre as medidas que foram adotadas para este rigor inscrevem-se as que dizem respeito à gestão do património que é “assinalável” e cujo rendimento “teve de ser reequacionado”.
Entre as várias obrigações estatutárias da Santa Casa está a organização das Festas do Senhor da Pedra. A Misericórdia de Vila Franca do Campo tem como Provedor da Mesa, Ricardo Rodrigues; Presidente da Assembleia Geral, o Pe José Alfredo Borges e como Capelão o Pe António Cassiano.
As festas deste ano celebram-se entre os dias 26 de agosto e 2 de setembro.