O Papa presidiu hoje a uma Missa no Vaticano, com transmissão online, assinalando o 7.º aniversário da sua viagem à ilha italiana de Lampedusa, evocando o “inferno” vivido agora pelos migrantes na Líbia.
“Vocês não imaginam o inferno que ali se vive, naqueles campos (lager) de detenção. E aquelas pessoas apenas vinham com uma esperança, de atravessar o mar”, disse Francisco, na homilia que pronunciou durante a celebração.
“Que a Virgem Maria, conforto dos migrantes, nos ajude a descobrir o rosto do seu filho em todos os irmãos e irmãs obrigados a fugir da sua terra por causa de tantas injustiças que ainda afetam o nosso mundo”, acrescentou.
A celebração na Capela da Casa de Santa Marta teve participação limitada, dada a situação sanitária, ao pessoal da secção Migrantes e Refugiados do Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral (Santa Sé).
Francisco repetiu uma passagem da homilia que pronunciou na primeira viagem do seu pontificado, a 8 de julho de 2013.
“A cultura do bem-estar, que nos leva a pensar em nós mesmos, torna-nos insensíveis aos gritos dos outros, faz-nos viver como se fôssemos bolas de sabão: estas são bonitas mas não são nada, são ilusão, ilusão do fútil, do provisório, que leva à indiferença face aos outros; mais, leva à globalização da indiferença”, afirmou.
O Papa aplicou esta intervenção, hoje, à situação na Líbia, aos campos de detenção, “abusos e violência de que são vítimas os migrantes”.
Já a 14 de junho, Francisco tinha denunciado a “dramática situação” que se vive na Líbia, em guerra civil, apelado à intervenção internacional para travar violência no país africano.
A situação sanitária agravou as condições de milhares de migrantes refugiados, requerentes de asilo e deslocados internos na Líbia, tornando-os mais vulneráveis a formas de exploração e violência.
No sétimo aniversário da viagem a Lampedusa, o Papa sublinhou que “o encontro com o outro é também encontro com Cristo”.
“Este encontro pessoal com Jesus Cristo também é possível para nós, discípulos do terceiro milénio. Colocando-nos em busca do rosto do Senhor, podemos reconhecê-lo no rosto dos pobres, doentes, abandonados e estrangeiros que Deus coloca no nosso caminho”, sublinhou.
«Tudo o que fizerdes…», para o bem ou para o mal! Esse aviso é hoje de atualidade ardente. Todos nós devemos usá-lo como um ponto fundamental do nosso exame diário da consciência”.
O Papa contou uma memória pessoal da sua viagem à ilha italiana, onde muitas apresentaram “as suas histórias, quanto tinham sofrido para ali chegar”.
Francisco sublinhou que tinha estranhado a diferença entre a duração dos testemunhos e a sua tradução, pelo intérprete.
“Quando voltei a casa, à tarde, na receção, havia uma senhora – paz à sua alma – que era filha de etíopes e percebia a língua. Tinha visto na TV o encontro e disse-me: ‘ouça, o que o tradutor lhe disse não é nem a quarta parte das torturas, dos sofrimentos que eles viveram’. Deram-me a versão destilada. Isso acontece hoje com a Líbia”, referiu.
A viagem do Papa à ilha italiana de Lampedusa, situada a menos de 115 quilómetros da costa da Tunísia, evocou o drama dos milhares de migrantes que tentam entrar na Europa e acabam por perder a sua vida no mar Mediterrâneo.
(Com Ecclesia)