Pelo padre Norberto Brum
Há anúncios que, pela grandeza do anunciado e pela dimensão da alegria da sua realização, quase que nos fazem viver e saborear o agora e já do acontecimento; começa-se a contar o tempo numa corrida contra o próprio tempo, tal é a expetativa e a ânsia de viver aquilo que não se quer em sonho mas em realidade.
Foi assim com o anúncio da realização da Jornada Mundial da Juventude, em Lisboa: era em 2022, uma notícia que fez despontar novos horizontes na Pastoral Juvenil, quer nacional quer Diocesana, uma oportunidade de trilhar-se um caminho, já antes iniciado com o Sínodo sobre os jovens e com a Exortação “Cristo Vive”, do Papa Francisco, um caminho que se quer de evangelização dos jovens, que os leve a descobrir e a viver o ideal de Jesus como a verdadeira possibilidade de felicidade: a realização da Jornada Mundial da Juventude, mais que um objectivo é um meio, mais que um fim, é um caminho; é partir para chegar e chegar para partir. Esta é a verdadeira dinâmica que nos deve mover e entusiasmar verdadeiramente.
Passado pouco mais de um ano sobre tão feliz anúncio, dadas as circunstâncias atuais de saúde pública que nos são dadas viver, e todas as consequências que daqui advirão, nomeadamente económicas e a necessidade de centrarmo-nos e concentar recursos e esforços no que venha a ser prioritário, nomeadamente o apoio aos mais fragilizados, às famílias e a quantos serão vítimas desta pandemia, o Papa Francisco adiou a JMJ para o ano 2023. Não se trata de um cancelamento mas de um adiamento, um adiamento que, em abono da verdade, se imponha “per si”.
Já havia, e há, um caminho iniciado e delimitado: já há trabalho, e muito, feito que, de forma alguma se perde no tempo mas, pelo contrário, ganha mais tempo: vamos ter mais um ano, que não será, nem pode ser, um “compasso de espera”, ou um “ano zero”, mas uma oportunidade de irmos mais longe na dinâmica que se quer de renovação e motivação no que à pastoral juvenil diz respeito e a um envolvimento, que se quer sempre maior e entusiasmante por parte dos jovens.
Este “estado de emergência” e todas as contingências a que estamos sujeitos, obrigou-nos, para além de ficarmos em casa, a fazer uma pausa em todas as actividades programadas e previstas, adiando, desta forma, a realização de eventos já programados e inseridos na dinâmica preparatória da JMJ.
Os próximos tempos serão incertos e, certamente, nada será como dantes, daí que há que ganhar um novo folgo “pós-pandemia”, recuperar o entusiasmo e acalentar a expetativa deste caminho que ganha mais uma “estrada”. Podemos dizer que este tempo agora, de certo modo perdido, será recuperado com este adiamento: não bastará que seja levantado o estado de emergência, que possamos sair de casa e que, gradualmente, voltemos às nossas habituais rotinas, para que tudo se recomponha: a nossa dita “normalidade” irá levar tempo a acontecer e esta pandemia vai deixar sequelas (Deus queira que poucas), daí que, não temos alternativa que não seja dar tempo ao tempo, e o tempo é sempre algo de precioso!
Em nada ficaremos e ficamos a perder, antes pelo contrário: ganhamos novas possibilidades, abrem-se novos desafios e aguça-se a originalidade.
Este adiamento vai exigir ao COL (Comité Organizador Local) e aos COD’S (Comités Organizadores Diocesanos), bem como de todas as instâncias pastorais, nomeadamente as mais ligadas ao sector juvenil, uma capacidade maior de envolver, motivar e acompanhar os próprios jovens, uma capacidade de fazer com que o ideal permaneça e a vontade de viver aquela Jornada não esmoreça.
A JMJ permanecerá sempre como uma aposta que se quer credível e mobilizadora para os jovens de todo o mundo e, neste caso, para nós, jovens portugueses, uma meta que faça valer a pena um caminho e um caminho que vá para além da meta. Este ano que agora se soma à caminhada rumo à JMJ, deverá ser encarado como um desafio à nossa capacidade de responder, com coragem, ousadia, criatividade e determinação aos desafios que o próprio tempo nos lança e lançará e uma oportunidade de sermos mais com os jovens, para os jovens e pelos jovens.
Há percursos que exigem mais caminho! Este é um deles!
*O padre Norberto Brum é o diretor do Serviço Diocesano da Pastoral juvenil na diocese de Angra