Por Renato Moura
Dia 25 de Abril de 1974 e seguintes: alegrias alicerçando muitas esperanças estampadas em comunicados e programas; e sobretudo em juras de garantia de liberdade. Sucederam-se governos provisórios, outros resultantes de eleições, cada qual com as suas realizações, sempre mais magras que as rechonchudas esperanças insufladas pelas promessas. Obviamente muitos progressos se efectivaram. E muitas liberdades se exerceram e algumas se perderam, pois que a liberdade não é apenas formal, mesmo quando institucional: é que ela é pessoal e funcional; e se é condicionada já não é liberdade.
Na comemoração institucional, deste 25 de Abril – passados que são 49 anos! – os deputados exprimiram verdades chocantes. Alguns exemplos: Falou-se “em «contas certas», mas que «não estão certas», quando não há resposta para os problemas das pessoas”; “se Portugal se apresenta mais anoitecido do que queriam é porque alguém não fez o suficiente” e justifica-se com “a pobreza, a emigração, os salários baixos, a crise na habitação, da educação, da saúde e dos transportes”; “de nada vale celebrar Abril se não concretizarmos o que os portugueses mais esperam de nós: que a justiça chegue finalmente a este país”; e há quem acredita que José Sócrates “nunca irá a julgamento”; “a democracia constrói-se na resolução dos problemas do presente e o seu oxigénio é o horizonte de uma vida melhor”; “o muito que Portugal tem por fazer na erradicação do ódio, da discriminação, do racismo, da violência doméstica”; “há 25 anos que os rendimentos e salários estagnaram e que estamos mais pobres”!
Houve quem afirmasse que se está a trilhar “um caminho progressista de redução das desigualdades e a fortalecer o Estado Social no acesso à saúde, à educação e ao ensino superior, com mais coesão e inclusão”, mas também quem contrapusesse: “há 25 anos que não há um desígnio nacional”; “um Governo que se esconde na vitimização” e “se transforma numa agência de publicidade”; “longo ciclo de decadência” que “condena os portugueses a empobrecer ou a emigrar”; “não faz sentido dar a outros o que não temos para nós próprios”!
Também se apelou: “sejamos impacientes na revolução e nas liberdades que estão por cumprir”; “25 de Abril tem agora de continuar a ser feito”; “os portugueses têm de voltar a ter esperança no futuro”.
Todos os deputados têm a legitimidade dos votos: falaram licitamente em nome de gente, dum Povo que sente.
Se Abril é esperança, que esta não seja a última a morrer, depois da morte de quem sempre a esperou concretizada.