Primeira Missa na capital do arquipélago marcada para domingo
O Papa foi hoje recebido por milhares de pessoas nas ruas de Havana, no percurso de 18 quilómetros entre o aeroporto internacional e a nunciatura apostólica (embaixada da Danta Sé) em Cuba.
Francisco deslocou-se num carro aberto e parou junto da multidão nos jardins da nunciatura, para cumprimentar as pessoas que se tinham reunido no local.
Segundo o porta-voz do Vaticano, 100 mil pessoas estiveram ao longo do percurso para seguir a terceira visita papal na história de Cuba.
No voo que levou o Papa de Roma a Havana, cumprimentou os 76 jornalistas que o acompanharam e falou num mundo “sedento de paz”.
“Penso que hoje o mundo está sedento de paz, existem as guerras, os migrantes que fogem, esta onda migratória que foge das guerras em busca de trabalho, de futuro”, assinalou.
Francisco confessou que se emocionou “muito” esta manhã ao despedir-se de uma das duas famílias de refugiados que foram acolhidas pelo Vaticano.
“Via-se a dor no rosto dessas pessoas”, referiu.
O Papa agradeceu o trabalho dos jornalistas, que convidou a “construir pontes”, em favor da paz.
À chegada a Havana, onde foi recebido pelo presidente Raúl Castro, o Papa elogiou a “normalização” das relações diplomáticas entre Cuba e Estados Unidos da América, apelando ao aprofundamento do diálogo político.
“Desde há vários meses, temos sido testemunhas dum acontecimento que nos enche de esperança: o processo de normalização das relações entre dois povos, após anos de afastamento. É um processo”, assinalou, no discurso inaugural da sua primeira visita ao país, perante o presidente Raul Castro.
Segundo o Papa, este é “um sinal da vitória da cultura do encontro, do diálogo”.
“Encorajo os responsáveis políticos a prosseguir por este caminho e a desenvolver todas as suas potencialidades, como prova do alto serviço que são chamados a prestar em favor da paz e do bem-estar dos seus povos, de toda a América, e como exemplo de reconciliação para o mundo inteiro”, afirmou, diante do presidente cubano, Raul Castro.
“O mundo precisa de reconciliação nesta atmosfera de terceira guerra mundial”, defendeu ainda.
Francisco pediu que este responsável manifestasse os seus “sentimentos de especial consideração e respeito” ao seu irmão Fidel Castro, cumprimentando depois todos os que, “por diferentes motivos” não se vão encontrar com o Papa e “todos os cubanos espalhados pelo mundo”.
O discurso evocou o 80.º aniversário do estabelecimento das relações diplomáticas entre a República de Cuba e a Santa Sé, que nunca foram interrompidas, bem como as viagens ao país de São João Paulo II (1998) e Bento XVI (2012).
“Hoje renovamos estes laços de cooperação e amizade, para que a Igreja continue a acompanhar e encorajar o povo cubano nas suas esperanças e preocupações, com liberdade e com os meios e espaços necessários para levar o anúncio do Reino até às periferias existenciais da sociedade”, disse Francisco.
O discurso papal apresentou o arquipélago como uma “chave” entre norte e sul, leste e oeste, que se “abre para todas as rotas”.
“A sua vocação natural [Cuba] é ser ponto de encontro para que todos os povos se reúnam na amizade”, observou.
O Papa argentino destacou ainda o 100.º aniversário da declaração da Virgem da Caridade do Cobre como padroeira de Cuba, por Bento XV.
“Foram os veteranos da Guerra da Independência que, movidos por sentimentos de fé e patriotismo, pediram que a Virgem mambisa [cubana] fosse a padroeira de Cuba enquanto nação livre e soberana”, explicou.
Francisco elogiou esta “crescente devoção” que ajuda os cubanos a preservar “a dignidade das pessoas nas situações mais difíceis” e a promover “tudo o que dignifica o ser humano”.
“Terei oportunidade de ir ao Santuário do Cobre, como filho e peregrino, rezar à nossa Mãe por todos os seus filhos cubanos e por esta amada nação, para que caminhe por sendas de justiça, paz, liberdade e reconciliação”, anunciou.
O Papa deixou votos de que, ao longo dos próximos dias, “aumentem os laços de paz, solidariedade e respeito mútuo” entre Igreja e Estado no território cubano.
Raul Castro agradeceu ao Papa, no seu discurso, pelo ensinamento que tem oferecido sobre o respeito pela natureza e em favor do desenvolvimento dos mais pobres.
O presidente cubano pediu o fim do bloqueio económico dos EUA e a devolução do território da base norte-americana de Guantánamo.
Este domingo, Francisco preside à Missa na Praça da Revolução, pelas 09h00 (14h00 em Lisboa), antes de encontrar-se de forma privada com Raul Castro, presidente cubano.
Durante a celebração eucarística, o Papa vai dar a Primeira Comunhão a cinco crianças, um gesto que simboliza o “crescimento” da Igreja Católica, segundo o diretor da sala de imprensa da Santa Sé.
As estatísticas divulgadas hoje pelo Vaticano mostram que há mais de 6,7 milhões de católicos em Cuba, correspondendo a 60,5% da população total da ilha.
A agenda de domingo inclui, ainda, uma oração com membros do clero e religiosos, bem como uma saudação aos jovens no Centro Cultural Padre Félix Varela.
CR/Ecclesia/Lusa