Primeiros ranchos saem este sábado usando um “laço” benzido pelo Papa e que sinaliza a comunhão do movimento com toda a Igreja.
O Grupo Coordenador do Movimento dos Romeiros de São Miguel pediu aos ranchos que saem nesta Quaresma, a partir de amanhã, que rezem “especialmente” pela “saúde” do Bispo de Angra durante a romaria.
“D. António sabe que nós rezamos sempre por ele, mas nesta altura de maior fragilização, em que se encontra doente” (como o próprio anunciou no Dia Mundial do Doente, na festa litúrgica de Nossa Senhora de Lourdes, na Sé de Angra) ” faremos todos os irmãos romeiros uma oração especial em intenção do restabelecimento da sua saúde” disse ao Sítio Igreja Açores o coordenador do Movimento dos Romeiros de São Miguel.
João Carlos Leite precisou, ainda, que já pediu essa oração a todos os ranchos e está convencido de que à semelhança do que aconteceu o ano passado com o Papa Francisco também haverá uma “enorme corrente de oração” pelo prelado diocesano.
No ano passado o Santo Padre esteve particularmente presente nas orações das romarias quaresmais e no final do ano, agradeceu as orações dos romeiros, invocando o Espírito Santo para que continue “ a aplanar os seus caminhos e os dos seus familiares”.
O Santo Padre volta a estar no centro das orações dos Romeiros, a pedido do Bispo de Angra, para que “o Espírito Santo O ilumine e fortaleça, para continuar a confirmar os irmãos na fé”.
Nas intenções deste ano, o prelado diocesenao pede aos romeiros para rezarem pelos Bispos, “para que sejam pastores vigilantes e apóstolos ardorosos”; pelos sacerdotes, para que sejam “discípulos missionários nas suas comunidades”; pelo Seminário para que seja “realmente escola de fé e de apostolado”; pelas familias; pelos governantes; pelos países em guerra; pelas famílias dos Irmãos Romeiros; pelos Romeiros falecidos e por todos os Romeiros, “para que estas Romarias Quaresmais sejam para todos, fonte de graça e de misericórdia”.
Durante as romarias, os Romeiros de São Miguel vão usar nos seus xailes uma pequena fita azul, benzida pelo Papa Francisco, em sinal de comunhão entre si e do movimento com a Igreja Universal.
As 2400 fitas em seda foram feitas a partir de um rolo benzido pelo Papa Francisco no passado dia 3 de dezembro na audiência geral, na Praça de São Pedro, em Roma, na qual participaram dois elementos do grupo coordenador, João carlos Leite e Ildeberto Piques Garcia.
Trata-se de um gesto “simbólico” que pretende assinalar “a unidade entre todos os romeiros de São Miguel” e a comunhão do movimento com a Igreja, em particular com o Papa Francisco.
Este ano sairão à rua 55 ranchos, 53 de São Miguel e dois da diáspora, provenientes da Arquidiocese de Toronto. O primeiro deles sairá na primeira semana, já este sábado, juntamente com os ranchos do Cabouco (Lagoa), Calhetas (Ribeira Grande), Candelária (Ponta Delgada), Miagres (Arrifes), Ribeira Quente, Ribeirinha, São Pedro (Ponta Delgada), São Roque, Santa Bárbara (Ponta Delgada) e Várzea. Durante todos dias da Quaresma haverá Romeiros nas estradas de São Miguel.
O coordenador do Movimento dos Romeiros de São Miguel, João Carlos Leite, lembra nas recomendações para este ano que “ todos os romeiros possam dar testemunho de mudança de vida” pois a “romaria é uma caminhada exterior, mas é também interior. Alerto à coerência de vida e à diferença na fé. Sinalizo o sentido de abnegação, que evita todo o tipo de excesso, no que diz respeito a bebidas, comidas e visitas. Relevamos, ainda, a importância de visitar o maior número de Igrejas e da boa convivência entre todos”.
“Que a nossa caminhada espiritual nos estimule a sermos cristãos ativos e autênticos nas nossas paróquias e nos nossos ambientes, como nos interpelou D. António de Sousa Braga e sejamos abnegados no acolhimento de todos os romeiros, sempre que possível em casas de família, usufruindo e partilhando todas as graças que advêm dessas teologias de afetos”, sublinha ainda o grupo coordenador na nota enviada aos ranchos.
O Grupo coordenador pede também mais orações “em voz alta” e que, uma vez mais, os ranchos indiquem “toda a reza pedida” e demais orações, bem como o numero de igrejas visitadas.
As romarias quaresmais são uma das realidades mais vivas da tradição da religiosidade popular açoriana. Começam no primeiro sábado da quaresma, prolongando-se até à quinta feira santa, e durante oito dias, grupos de homens percorrem a ilha de São Miguel, sempre a pé, do nascer ao por do sol, rezando em busca do perdão e da redenção.
Unidos pela fé, agarrados a um terço e a um bordão, percorrem todos os templos de pedra dedicados ao culto mariano.
Os ranchos de romeiros, que agora também já existem na ilha Terceira e na Graciosa, bem como no Canadá e nos Estados Unidos, remontam a 1522 e 1563, data de grandes erupções vulcânicas e tremores de terra que destruíram Vila Franca do Campo e Ribeira Grande, respetivamente.
Os romeiros são verdadeiros peregrinos penitentes que através da caminhada procuram a conversão pessoal e espiritual.
Os ranchos são compostos apenas por homens e neles há três com funções particularmente definidas: o mestre, o procurador das almas e o guia.
O Mestre é a primeira de todas as figuras do Rancho. É ele que preside ao auto processional, dirige as orações, oferece e suplica a Deus e à Virgem as inúmeras preces de que vem incumbido. È, ele, de resto, que dita o ritmo de andamento do rancho, nomeadamente quando se para, se anda, se reza ou se descansa.
O Procurador das Almas ocupa o segundo lugar na hierarquia do rancho. Pela estrada fora dirige as preces e pede a aplicação delas, recebendo durante o trajeto os pedidos de diferentes pessoas, para orações aplicadas a intenções muito diversas.
Finalmente, a terceira e última figura do Rancho é o Guia que vai à frente de toda a Romaria, porque conhece os caminhos, as veredas, as ribanceiras por onde todo o Rancho tem de passar, para ir pelos mais curtos atalhos até todas as Ermidas e Igrejas espalhadas por toda a Ilha de São Miguel, onde haja uma invocação à Virgem Maria.
A dimensão dos ranchos varia de paróquia para paróquia mas estima-se que nesta Quaresma entre 2000 a 2500 homens participem nas romarias.