Igreja começa a celebrar Ano da Vida Consagrada

Iniciativa do Papa Francisco procura dar visibilidade e reconhecimento a estilo de vida que acompanha o Cristianismo desde os primeiros séculos

A Igreja Católica começa a assinalar o Ano da Vida Consagrada, convocado pelo Papa Francisco, com uma vigília de oração em Roma, sob a presidência do responsável pelo setor na Cúria Romana, cardeal João Braz de Aviz.

Na Diocese de Angra, o inicio do Ano da Vida Consagrada é assinalado este domingo com uma missa na Sé, presidida pelo prelado diocesano na qual participarão religiosos da diocese.

Residem nos Açores religiosas e religiosos de 15 congregações, três masculinas-  Sacerdotes do Coração de Jesus (Dehonianos), Ordem dos Frades Menores Franciscanos e Irmãos de São João de Deus- e 12 femininas- Clarissas, Congregação do Bom Pastor, Franciscanas Hospitaleiras, Irmãs da Divina Providência e Sagrada família, irmãs Doroteias, Irmãs Hospitaleiras do sagrado Coração de Jesus, Irmãs Reparadoras Missionárias da Santa Face, Irmãs de São José de Cluny, Irmãs Servas da Sagrada Família, Irmãs Vitorianas, Missionárias Reparadoras e religiosas de Maria Imaculada.

Na nota pastoral do inicio do ano, D. António de Sousa Braga, afirmou que a Igreja diocesana “associa-se de boamente às iniciativas que vão ser promovidas, incentivando a Vida Consagrada nos Açores a fazer um balanço da sua presença e ação na sociedade”.

O prelado diocesano sublinha que este ano é “uma oportunidade para lançar iniciativas de oração e ação em prol das vocações à vida consagrada” e deixa exemplos de ações e momentos concretos onde isso possa ser desenvolvido.

“Os encontros de preparação para o Crisma poderão ser momentos de contacto direto com membros da vida consagrada”, tal como “o dia Mundial da Juventude que é uma ocasião única para este intercâmbio de fé e encontro entre as várias gerações dos que acreditam e jogam a vida por Cristo”, conclui o responsável pela igreja católica nos Açores.

De resto, um repto aceite por todas as congregações que no seu plano de ação têm previstas várias deslocações às salas de catequese paroquial, escolas e encontros com famílias e jovens no sentido de testemunhar o que é a sua vida. Há mesmo comunidades que decidiram abrir as suas portas ao fim de semana, convidando jovens a passarem por lá, além de vigílias de oração e participação em dias de efemérides relacionadas com a vida religiosa consagrada.

Este ano assinalam-se, também, os 50 anos da publicação do decreto do Concílio Vaticano II sobre a Vida Consagrada, ‘Perfectae caritatis’, que foi explicado aos religiosos de todo o mundo pelo próprio Papa, através de uma carta apostólica publicada esta sexta-feira.

O cardeal brasileiro D. João Braz de Aviz refere à Rádio Vaticano que Francisco convida os consagrados da Igreja Católica a reforçarem a sua identidade de “discípulos de Jesus”, voltando à intuição dos “fundadores e fundadoras” das ordens e congregações, “com os olhos abertos ao diálogo com o mundo”.

O presidente da Conferência dos Institutos Religiosos de Portugal (CIRP) encara a celebração do Ano da Vida Consagrada como uma hipótese dos consagrados e consagradas mostrarem à sociedade a força que continua a marcar a sua missão, mesmo no meio de muitos desafios e dificuldades.

De acordo com a Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e Sociedades de Vida Apostólica, da Santa Sé, a média de abandonos dentro das ordens religiosas e seculares é atualmente de 3 mil por ano.

A falta de vocações, realça o padre Artur Teixeira, tem feito com que muitos olhem para a Vida Consagrada como uma “espécie” em “extinção” e deve sem dúvida “questionar profundamente” os religiosos e religiosas acerca da sua “fidelidade ao Evangelho”.

 

O padre David Sampaio, docente de História da Igreja na Universidade Católica Portuguesa, recorda, no dossier publicado na mais recente edição do Semanário ECCLESIA, que a Vida Consagrada é “uma forma de vida cristã que se reporta aos primeiros séculos do cristianismo”.

Já o padre Manuel Morujão, jesuíta, refere na mesma publicação que “desde os começos da Igreja, houve homens e mulheres que, pela prática dos conselhos evangélicos de castidade, pobreza e obediência, procuraram seguir mais de perto a Cristo no seu estilo original de vida”.

A irmã Maria de Fátima Magalhães, da Companhia de Santa Teresa de Jesus, escreve por sua vez que a Vida Consagrada “será sempre um dom, uma ‘boa notícia’ para a Igreja e para o mundo.

O bispo do Algarve, D. Manuel Quintas, viu a sua vocação crescer dentro da Congregação dos Sacerdotes do Sagrado Coração de Jesus, onde fez os primeiros votos e foi mais tarde ordenado sacerdote a 12 de junho de 1977.

Para o prelado natural de Trás-os-Montes, “ser consagrado é a realização de uma vocação batismal” e também “uma opção pessoal, em resposta a um apelo que se sente como cristão”.

O Ano da Vida Consagrada tem estado em destaque, esta semana, no Programa ECCLESIA na Antena 1 da rádio pública e é o tema central da edição deste domingo (06h00).

“A Vida Consagrada não é muito falada. Nós falamos com crianças e elas não sabem o que é, quando na realidade a consagração é uma presença fundamental para a Igreja”, sublinha à Agência ECCLESIA o padre Miguel Ribeiro, missionário espiritano de 37 anos, religioso desde 2006.

O Papa Francisco propôs que a Igreja Católica vivesse um tempo, até 2 de fevereiro de 2016, em que a ação dos consagrados, religiosos e leigos consagrados, estivesse no centro, dando testemunho, “com diferentes carismas e espiritualidades”, de um trabalho realizado em prol de “uma sociedade mais justa e fraterna”.

 

Leiga consagrada, pelo Instituto Secular das Cooperadoras da Família, Elizabete Puga reconhece que o serviço realizado por pessoas que “mantêm a sua profissão e estão inseridas na sociedade, vivendo os conselhos evangélicos de pobreza, castidade e obediência” causa estranheza.

Rosário Virgílio, presidente da CNISP (Conferência Nacional dos Institutos Seculares de Portugal), deseja que este ano “contribua para um maior conhecimento desta vocação”, a secularidade consagrada, e que se “deixe de identificar vida consagrada com a vida religiosa”.

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