O Movimento dos Romeiros promoveu, no dia 16 de novembro, uma formação de «procuradores das almas» para «procuradores das almas».
Embora não fossem graduados em ciências teológicas, os palestrantes, leigos casados e pais, apresentaram, com o coração, a sua experiência de um modo reflexivo e profundo.
A tarefa essencial do «procurador» é intermediar a oração, fazer a ponte espiritual entre os romeiros e os fiéis que encontram no caminho, em última análise entre os que assistem à romaria e Deus, que os romeiros procuram servir de um modo especial.
Acima de qualquer promessa, hábito, tradição ou passeio, a romaria consiste num serviço sacerdotal, pois realiza a mediação entre Deus e a humanidade, à imagem dos antigos sacerdotes. Essa função atingiu o clímax na encarnação do Verbo (Jo 1:14): em Jesus de Nazaré, verdadeiro Deus e verdadeiro homem, a ponte entre o Eterno e o tempo fica para sempre garantida. Jesus é o pontífice por excelência (Hb 3:1).
Esse ofício sacerdotal do romeiro exerce-se intensamente nessa semana de retiro quaresmal. Primeiro, ele reflete sobre a sua missão sacerdotal na família e no trabalho, como canal livre e inteligente da Sabedoria de Deus para cada situação. Depois, apresenta a Deus o mundo e o seu mundo, sedento de graça, carente do Espírito.
Tal como o padre, o sacerdote ministerial, nas comunidades cristãs, intervém por que cada cristão exerça, no dia a dia, o seu sacerdócio comum (Vaticano II, Lumen Gentium 10-11), também o procurador das almas incita os irmãos romeiros a realizar o seu papel de mediadores, assim na caminhada como, depois, na vida normal.
A romaria é uma escola verdadeiramente sacerdotal. Os romeiros sabem que, sem Deus, a humanidade sucumbe, a vida perde valor. Destarte, procuram tomar consciência da dignidade de reino de sacerdotes (Ex 19:6) a que todas e todos, humanos e criaturas, são chamados, como verdadeiras filhas e filhos de Deus.
Os Romeiros não são um movimento periférico. Mas, se tiverem de carregar esse título às costas, sentem-se uns privilegiados marginais nos caminhos de Emaús, aqueles onde Jesus ressuscitado se deu a conhecer no partir do pão (Lc 24).
Maria, a primeira grande procuradora das almas, ou seja, sacerdotisa, da Nova Aliança, leva ao colo cada romeiro na sua peregrinação pelas ruas de São Miguel, formando o seu coração para, à imagem do seu Filho, compreender e viver o seu sacerdócio ao longo de todo o ano (1 Pe 2:5.9).
Ricardo Tavares, In A Crença, 21.11.2014
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